El multitudinario encuentro se ha realizado el sábado 16 de mayo en el Aula Pablo VI.
7. Acompañar en la dirección espiriual a los laicos
Finalmente, ha felicitado y elogiado a una religiosas de 97 años de edad por su fidelidad y perseverancia.
A primeira pergunta foi feita pela irmã Fulvia Sieni, agostiniana do mosteiro dos Santos Quatro Coroados: «Os mosteiros vivem um delicado equilíbrio entre escondimento e visibilidade, clausura e compromisso na vida diocesana, silêncio orante e palavra que anuncia. Como pode um mosteiro urbano enriquecer e deixar-se enriquecer pela vida espiritual da diocese e pelas outras formas de vida consagrada, mantendo-se firme nas suas prerrogativas monásticas?».
Papa Francisco:
Tu falas de um equilíbrio delicado entre escondimento e visibilidade. Eu digo mais: uma tensão entre escondimento e visibilidade. A vocação monástica é esta tensão, tensão no sentido vital, tensão de fidelidade. O equilíbrio pode ser entendido como «balançamos, igual deste lado como daquele...». Ao contrário, a tensão é a chamada de Deus à vida escondida e a chamada de Deus a tornar-se visível de um certo modo. Mas como deve ser esta visibilidade e como deve ser esta vida escondida? Esta é a tensão que viveis na vossa alma. Esta é a vossa vocação: sois mulheres «em tensão»: em tensão entre esta atitude de procurar o Senhor e esconder-se no Senhor, e esta chamada a dar um sinal. Os muros do mosteiro não são suficientes para dar este sinal. Recebi uma carta, há 6-7 meses, de uma irmã de clausura que tinha começado a trabalhar com os pobres, na portaria; e depois saiu para trabalhar com os pobres; e foi sempre em frente cada vez mais, e no final disse: «A minha clausura é o mundo». Eu respondi-lhe: «Diz-me, querida, tu tens a grade portátil?». Isto é um erro.
Outro erro é não querer ouvir nem ver nada. «Padre, as notícias podem entrar no mosteiro?». Devem! Mas não as notícias — digamos — dos meios de comunicação «intriguista»; as notícias sobre o que acontece no mundo, as notícias — por exemplo — das guerras, das doenças, de quanto sofrem as pessoas. Por isso, uma das coisas que nunca deveis descuidar é o tempo para ouvir as pessoas! Até nas horas de contemplação, de silêncio... Alguns mosteiros têm a secretaria telefónica e o povo telefona, pede oração por isto, por aquilo: esta ligação com o mundo é importante! Nalguns mosteiros vê-se o telejornal; não sei, isto é um discernimento de cada mosteiro, segundo a regra. Outros recebem o jornal, lê-se; noutros faz-se esta ligação de outro modo. Mas é sempre importante uma ligação com o mundo: saber o que acontece. Porque a vossa vocação não é um refúgio; é ir precisamente ao campo de batalha, é luta, é bater à porta do coração do Senhor por aquela cidade. É como Moisés que erguia as mãos ao alto, rezando, enquanto o povo combatia (cf. Êx 17, 8-13).
Vêm muitas graças do Senhor nesta tensão entre a vida escondida, a oração e ouvir as notícias das pessoas. Nisto a prudência, o discernimento, far-vos-á compreender de quanto tempo necessita uma coisa e de quanto necessita outra. Há também mosteiros que dedicam meia hora, uma hora por dia, a dar de comer a quantos o vêm pedir; e isto não é contra o escondimento em Deus. É um serviço; é um sorriso. O sorriso das monjas abre o coração! O sorriso das monjas alimenta mais do que o pão aqueles que vêm! Esta semana és tu que por meia hora dás de comer aos pobres que pedem até um pedaço de pão. Um faz isto, outro faz aquilo: esta semana és tu que sorris aos necessitados! Não vos esqueçais disto. A uma religiosa que não sabe sorrir falta alguma coisa.
Há problemas nos mosteiros, lutas — como em todas as famílias — pequenas lutas, um certo ciúme, isto e aquilo... E isto faz-nos compreender quanto sofrem as pessoas na família, as lutas nas famílias; quando marido e esposa discutem e quando há ciúmes; quando as famílias se separam... Quando também vós tendes este tipo de provações — há sempre coisas deste género — compreender que não é este o caminho a oferecer ao Senhor, procurando uma via de paz, dentro do mosteiro, para que o Senhor restabeleça a paz nas famílias, entre as pessoas.
«Diz-me, Padre, lemos muitas vezes que no mundo, na cidade, há a corrupção; também nos mosteiros pode haver corrupção?». Sim, quando se perde a memória. Quando se perde a memória! A memória da vocação, do primeiro encontro com Deus, do carisma que fundou o mosteiro. Quando se perde esta memória e a alma começa a ser mundana, pensa coisas mundanas e perde-se aquele zelo da oração e da intercessão pelo povo. Tu disseste uma palavra muito bonita: «O mosteiro está presente na cidade, Deus está na cidade e nós sentimos o barulho da cidade». Aquele barulho, aqueles sons de vida, dos problemas, de muitas pessoas que vão e vêm do trabalho, que pensam estas coisas, que amam...; todos estes rumores vos devem estimular a lutar com Deus, com a mesma coragem de Moisés. Recorda-te de quando Moisés estava triste porque o povo percorria um caminho errado. O Senhor perdeu a paciência e disse a Moisés: «Eu destruirei este povo! Mas tu fica tranquilo, serás chefe de outro povo». Que disse Moisés? O que disse? «Não! Se tu destruíres este povo, destróis-me também a mim!» (cf. Êx 32, 9-14). Este vínculo com o teu povo é a cidade. Dizer ao Senhor: «Esta é a minha cidade, é o meu povo. São os meus irmãos e as minhas irmãs». Isto significa dar a vida pelo povo. Este equilíbrio delicado, esta tensão delicada significa tudo isto.
Não sei como fazeis vós agostinianas dos Santos Quatro: há a possibilidade de receber pessoas no falatório... Quantas grades tendes? Quatro ou cinco? Ou já não tendes grades... É verdade que se pode escorregar nalgumas imprudências, dedicar muito tempo a falar — santa Teresa diz tantas coisas sobre isto — mas ver a vossa alegria, ver a promessa da oração, da intercessão, faz muito bem às pessoas! E vós, depois de uma meia hora de conversa, voltais ao Senhor. Isto é muito importante, muito! Porque a clausura tem sempre necessidade desta ligação humana. Isto é muito importante.
A questão final é: como pode um mosteiro enriquecer-se e deixar-se enriquecer com a vida espiritual da diocese e das outras formas de vida consagrada, mantendo-se firme nas suas prerrogativas monásticas? Sim, a diocese: rezar pelo bispo, pelos bispos auxiliares e pelos sacerdotes. Há bons confessores em toda a parte! Alguns menos bons... Mas há muitos que são bons! Sei que há sacerdotes que vão aos mosteiros para ouvir as monjas, e sois muito positivas para os sacerdotes. Rezai pelos sacerdotes. Neste equilíbrio delicado, nesta tensão delicada há também a oração pelos sacerdotes. Pensai em santa Teresa do Menino Jesus... Rezai pelos sacerdotes, mas ouvi-os também, ouvi-os quando vos visitam, durante aqueles minutos no falatório. Ouvi-os. Eu conheço tantos, muitos sacerdotes que — permiti a palavra — desabafam falando com uma monja de clausura. E depois o sorriso, a palavrinha e a segurança da oração da irmã renovam-nos e voltam para a paróquia felizes. Não sei se respondi...
Apresentou a segunda pergunta Iwona Langa, da Ordo virginum, Casa-família Ain Karim: «O matrimónio e a virgindade cristãs são dois modos de realizar a vocação para o amor. Fidelidade, perseverança, unidade de coração, são compromissos e desafios quer para os esposos quer para nós consagrados: como iluminar o caminho uns dos outros, uns para os outros, e caminhar juntos rumo ao Reino?».
Papa Francisco:
A primeira religiosa, irmã Fulvia Sieni, estava — digamos — «na prisão», esta está... «na estrada». Ambas levam a palavra de Deus à cidade. Fez uma boa pergunta: «O amor no matrimónio e o amor na vida consagrada é o mesmo amor?». Tem aquelas qualidades de perseverança, fidelidade, unidade, coração? Há compromissos e desafios? Por isto as consagradas se consideram esposas do Senhor. Desposam o Senhor. Eu tinha um tio cuja filha se fez freira e dizia: «Agora eu sou sogro do Senhor! A minha filha casou com o Senhor». Há na consagração feminina uma dimensão esponsal. Também na consagração masculina: diz-se que o bispo é «esposo da Igreja», porque está no lugar de Jesus, esposo da Igreja. Mas esta dimensão feminina — saio um pouco da pergunta, depois volto — nas mulheres é muito importante. As irmãs são o ícone da Igreja e de Nossa Senhora. Não esqueçais que a Igreja é feminina: não é o Igreja, é a Igreja. E por isto a Igreja é esposa de Jesus. Esquecemos isto muitas vezes; e esquecemos este amor materno da irmã, porque o amor da Igreja é materno; este amor materno da irmã, porque o amor de Nossa Senhora é materno. A fidelidade, a expressão do amor da mulher consagrada, deve — não como dever, mas por conaturalidade — reflectir a fidelidade, o amor, a ternura da Mãe Igreja e da Mãe Maria. Uma mulher que, para se consagrar, não trilha este caminho, no final erra. A maternidade da mulher consagrada! Pensai muito nisto. Como é materna Maria e como é materna a Igreja.
E tu perguntavas: como iluminar o caminho uns aos outros, e uns para os outros, e caminhar para o Reino? O amor de Maria e o amor da Igreja é um amor concreto! Ser concreto é a qualidade desta maternidade das mulheres, das irmãs. Amor concreto. Quando uma irmã começa com as ideias, muitas, demasiadas ideias... Mas o que fazia santa Teresa? Que conselhos dava santa Teresa, a grande, à superiora? «Dá-lhe um bife e depois falaremos». Fazê-la voltar à realidade. Ser concreto. E o carácter concreto do amor é muito difícil. É muito difícil! E muito mais quando se vive em comunidade, porque todos conhecemos os problemas da comunidade: os ciúmes, os mexericos; que esta superiora é isto, que a outra é aquilo... Estas são coisas concretas, mas não são boas! O carácter concreto da bondade, do amor, que tudo perdoa! Se tiveres que dizer uma verdade, di-la directamente, mas com amor; reza antes de fazer uma reprovação e depois pede ao Senhor que vá em frente com a correcção. É o amor concreto! Uma irmã não se pode permitir um amor nas nuvens; não, o amor é concreto.
E como é concreta uma mulher consagrada? Como é? Podes encontrá-la em dois trechos do Evangelho. Nas Bem-Aventuranças: dizem-te o que deves fazer. Jesus, o programa de Jesus, é concreto. Muitas vezes penso que as Bem-Aventuranças são a primeira Encíclica da Igreja. É verdade, porque elas contêm todo o programa. E depois também é muito concreto o protocolo sobre o qual todos seremos julgados: Mateus 25. O carácter concreto da mulher consagrada está ali. Com estes dois trechos podes viver toda a vida consagrada; com estas duas regras, com estas duas situações concretas, fazendo estas coisas concretas. E com estas coisas concretas podes chegar também a um grau, a uma altura de santidade e de oração muito grande. Mas é necessário ser concreto. Uma mãe nunca fala mal dos filhos. Mas se és freira, num convento e numa comunidade laical, tens esta consagração materna e não é lícito que fales mal das outras religiosas! Não. Desculpá-las sempre, sempre! É bonito aquele trecho da autobiografia de santa Teresa do Menino Jesus, quando encontra a irmã que não gostava dela. O que fazia? Sorria e ia em frente. Um sorriso de amor. E o que fazia quando tinha que acompanhar aquela irmã que nunca estava contente, porque coxeava das duas pernas e pobrezinha era doente: que fazia? Fazia o melhor que podia! Acompanhava-a bem e depois cortava-lhe também o pão, fazia algo mais. Mas nunca se critica pelas costas! Isto destrói a maternidade. Uma mãe que critica, que fala mal dos seus filhos não é mãe! Penso que se diga que é «madrasta»... Não é mãe. Digo-te isto: o amor — e tu vês que é também conjugal, é a mesma figura, a figura da maternidade na Igreja — é ser concreto. O carácter de concreto. Recomendo que façais este exercício: ler as Bem-Aventuranças, e o trecho de Mateus 25, o protocolo do Juízo. Isto é muito positivo para que o Evangelho seja concreto. Não sei, acabemos aqui?
A terceira pergunta foi apresentada pelo padre Gaetano Saracino, missionário escalabriniano, pároco do Santíssimo Redentor: «Como pôr em comum e fazer frutificar os dons de que são portadores os diversos carismas nesta Igreja local tão rica de talentos? Muitas vezes é difícil até a comunicação dos diversos percursos, somos incapazes de unir as forças entre congregações, paróquias, outros organismos pastorais, associações e movimentos laicais, como se houvesse concorrência e não serviço partilhado. Outras vezes, nós consagrados, sentimo-nos como “tapa-buracos”. Como “caminhar juntos”?».
Papa Francisco:
Estive naquela paróquia e sei o que faz este sacerdote revolucionário: trabalha bem! Muito bem! Começaste a falar da festa. É uma das coisas que nós cristãos esquecemos: a festa. Mas a festa é uma categoria teológica, encontra-se também na Bíblia. Quando voltardes para casa, lede Deuteronómio 26. Ali Moisés, em nome do Senhor, diz o que os camponeses devem fazer todos os anos: levar ao templo os primeiros frutos da colheita. Diz assim: «Vai ao templo, leva um cesto com os primeiros frutos para os oferecer ao Senhor como acção de graças». E depois? Primeiro, recorda. E faz-lhe recitar um pequeno credo: «Meu pai era um arameu errante, Deus chamou-o; fomos escravos no Egipto, mas o Senhor libertou-nos e concedeu-nos esta terra...» (cf. Dt 26, 5-9). Primeiro, a memória. Segundo, entrega o cesto ao encarregado. Terceiro, dá graças ao Senhor. E quarto, volta para casa e festeja. Faz festa e convida os que não têm família, os escravos, os que não são livres, convida também o vizinho para a festa... A festa é uma categoria teológica da vida. E não se pode viver a vida consagrada sem esta dimensão de festa. Faz-se festa. Mas fazer festa não é o mesmo que fazer confusão, barulho... Fazer festa, diz o trecho citado. Recordai-vos: Deuteronómio 26. Contém o final de uma oração: é a alegria de recordar tudo o que o Senhor fez por nós; tudo o que me deu; também aquele fruto pelo qual trabalhei e faço festa. Nas comunidades, também nas paróquias como no teu caso, onde não se festeja — quando é necessário fazê-lo — falta algo! São demasiado rígidas: «Far-nos-á bem à disciplina». Tudo organizado: as crianças recebem a Comunhão, lindíssima, ensina-se um bom catecismo... Mas falta algo: falta a alegria, falta o barulho, falta a festa! Falta o coração alegre de uma comunidade. A festa. Alguns escritores espirituais dizem que também a Eucaristia, a celebração da Eucaristia é uma festa: sim, tem uma dimensão de festa ao comemorar a morte e ressurreição do Senhor. Eu não quis esquecer isto, não estava contido na tua pergunta, mas na tua reflexão interior.
E depois falas da concorrência entre esta paróquia e aquela, uma congregação e outra... Para o bispo uma das coisas mais difíceis é manter a harmonia na diocese! E tu dizes: «Mas os religiosos são tapa-buracos para o bispo?». Pode acontecer... Mas faço-te outra pergunta: por exemplo, quando tu fores bispo — põe-te no lugar do bispo — tens uma paróquia, com um bom pároco religioso; três anos mais tarde vem o provincial e diz-te: ««Troco-o este e mando-te outro». Também os bispos sofrem com esta atitude. Muitas vezes — nem sempre, porque há religiosos que entram em diálogo com o bispo — devemos fazer a nossa parte. «Reunimo-nos em capítulo e nele decidimos isto...». Muitas religiosas e religiosos passam a vida se não em capítulos, em versículos... Mas passam-na sempre assim! Tomo a liberdade de falar deste modo, porque sou bispo e sou religioso. E compreendo ambas as partes, compreendo os problemas. É verdade: a unidade entre os diversos carismas, a unidade do presbitério, a unidade com o bispo... E isto não é fácil de encontrar: cada um defende o próprio interesse, não digo sempre, mas há esta tendência humana... E por detrás há um pouco de pecado, mas é assim. Por isso a Igreja, neste momento, está a pensar em oferecer um velho documento, em restabelecê-lo, sobre as relações entre o religioso e o bispo. O Sínodo de 1994 pediu para renovar o documento Mutuae relationes (14 de Maio de 1978). Passaram tantos anos e ainda não foi feito. Não é fácil a relação dos religiosos com o bispo, com a diocese ou com os sacerdotes não religiosos. Mas é preciso comprometer-se pelo trabalho comum. Nas prefeituras, como se trabalha a nível pastoral neste bairro, ou naquele, todos juntos? A Igreja faz-se assim. O bispo não deve usar os religiosos como tapa-buracos, mas os religiosos não devem usar o bispo como se fosse o dono de uma empresa que dá um trabalho. Não sei... Mas a festa, quero voltar ao que é principal: quando há comunidade, sem interesses próprios, há sempre espírito de festa. Vi a tua paróquia e é verdade. Tu sabes fazê-lo! Obrigado.
A quarta pergunta foi feita pelo padre Gaetano Greco, terciário capuchinho de Nossa Senhora das Dores, capelão na prisão para menores de Casal del Marmo: «A vida consagrada é um dom de Deus à Igreja, um dom de Deus ao seu Povo. Mas este dom nem sempre é apreciado e valorizado na sua identidade e especificidade. Muitas vezes as comunidades, sobretudo femininas, na nossa Igreja local têm dificuldade de encontrar acompanhadores e acompanhadoras sérios, formadores, directores espirituais, confessores. Como redescobrir esta riqueza? Em 80% a vida consagrada tem um rosto feminino. Como é possível valorizar a presença da mulher e em particular da mulher consagrada na Igreja?».
Papa Francisco:
Na sua reflexão, ao contar a sua história, o padre Gaetano falou daquela «substituição de 2-3 semanas» que devia fazer na prisão para menores. Está ali há 45 anos, penso. Fê-lo por obediência. «O teu lugar é ali», disse-lhe o superior. E ele obedeceu de má vontade. Depois viu que aquele acto de obediência, o que o superior lhe tinha pedido, era a vontade de Deus. Permito-me, antes de responder à pergunta, dizer uma palavra sobre a obediência. Quando Paulo nos quer referir o mistério de Jesus Cristo usa esta expressão: «Fez-se obediente até à morte e morte de cruz» (cf. Fl 2, 8). Humilhou-se a si mesmo. Obedeceu. O mistério de Cristo é um mistério de obediência, e a obediência é fecunda. É verdade que, como qualquer virtude, como qualquer lugar teológico, pode ser tentada e tornar-se uma atitude disciplinar. Mas a obediência na vida consagrada é um mistério. E assim como disse que a mulher consagrada é o ícone de Maria e da Igreja, podemos dizer também que a obediência é o ícone do caminho de Jesus. Quando Jesus se encarnou por obediência, se fez homem por obediência, até à cruz e à morte. Não se compreende o mistério da obediência, a não ser à luz deste caminho de Jesus. O mistério da obediência é um assemelhar-se a Jesus no caminho que Ele quis percorrer. E vêem-se os frutos. Agradeço ao padre Gaetano o seu testemunho sobre este ponto, porque se dizem muitas palavras sobre a obediência — o diálogo prévio, sim, todas estas coisas são boas, não são negativas — mas o que é a obediência? Também na Carta de Paulo aos Filipenses, capítulo 2: é o mistério de Jesus. Unicamente ali podemos compreender a obediência. Não nos capítulos gerais ou provinciais: só no mistério de Jesus ela pode ser aprofundada, compreendida.
Passemos agora à pergunta: a vida consagrada é um dom, um dom de Deus à Igreja. É verdade. É um dom de Deus. Vós falais da profecia: é um dom de profecia. É Deus presente, Deus que quer fazer-se presente com um dom: escolhe homens e mulheres, mas é um dom, um dom gratuito. Também a vocação é um dom, não é um recrutamento de pessoas que querem seguir aquele caminho. Não, é o dom ao coração de uma pessoa; o dom a uma congregação; e também aquela consagração é um dom. Mas nem sempre este dom é apreciado e valorizado na sua identidade e especificidade. Isto é verdade. Há a tentação de homologar os consagrados, como todos fossem iguais. No Vaticano ii foi feita uma proposta deste género, de homologação dos consagrados. Não, é um dom com uma identidade particular, que vem através do dom carismático que Deus faz a um homem ou a uma mulher para formar uma família religiosa.
E depois há um problema: como se acompanham os religiosos. Muitas vezes as comunidades, sobretudo femininas, na nossa Igreja local têm dificuldade de encontrar acompanhadores e acompanhadoras sérios, formadores, padres espirituais e confessores. Ou porque não compreendem o que é a vida consagrada, ou porque se querem inserir no carisma e dar interpretações que fazem mal ao coração da religiosa... Estamos a falar das irmãs que têm dificuldades, mas também os homens as têm. E acompanhar não é fácil. Não é fácil encontrar um confessor, um padre espiritual. Não é fácil encontrar um homem com rectidão de intenções; e que aquela direcção espiritual, aquela confissão não seja uma boa conversa entre amigos mas sem profundidade; ou encontrar aqueles que são rígidos, que não compreendem bem onde está o problema, porque não entendem a vida religiosa... Na outra diocese que eu tinha, às irmãs que vinham pedir conselho eu dizia sempre: «Diz-me, na tua comunidade ou na tua congregação, não há uma irmã sábia, uma irmã que vive bem o carisma, uma boa religiosa experiente? Faz a direcção espiritual com ela!» — «Mas é mulher!» — «É um carisma de leigos!». A direcção espiritual não é um carisma exclusivo dos presbíteros: é um carisma dos leigos! No monaquismo primitivo os leigos eram os grandes directores. Agora estou a ler a doutrina, precisamente sobre a obediência, de são Silvano, aquele monge do Monte Atos. Era um carpinteiro, depois foi ecónomo, mas nem sequer era diácono; era um grande director espiritual! É um carisma dos leigos. E os superiores quando vêem que um homem ou uma mulher naquela congregação ou província tem esse carisma de padre espiritual, deve-se procurar ajudá-lo a formar-se, para prestar este serviço. Não é fácil. Uma coisa é ser director espiritual e outra é ser confessor. Ao confessor digo os meus pecados, ouço a penitência; depois perdoa-me tudo e vou em frente. Mas ao director espiritual devo dizer o que acontece no meu coração. O exame de consciência não é o mesmo para a confissão e para a direcção espiritual. Para a confissão, deves ver onde faltaste, se perdeste a paciência; se foste ávido: estas coisas concretas, que são pecaminosas. Mas para a direcção espiritual deves fazer um exame acerca do que aconteceu no coração; qual é a moção do espírito, se tive desolação, conforto, se estou cansado, por que estou triste: são estas as coisas das quais falar com o director ou a directora espiritual. São estas as cosias. Os superiores têm a responsabilidade de procurar os que na comunidade, na congregação, na província têm este carisma, confiar esta missão e formá-los, ajudá-los nisto. Acompanhar pela vereda é caminhar passo a passo com o irmão ou a irmã consagrada. Penso que nisto ainda somos imaturos.
Neste aspecto não maturamos porque a direcção espiritual vem do discernimento. Mas quando tens à tua frente homens e mulheres consagrados que não sabem discernir o que acontece no seu coração, que não sabem discernir uma decisão, é falta de direcção espiritual. E isto só o sabe fazer um homem sábio, uma mulher sábia. Mas também formados! Hoje não se pode ter só boa vontade: o mundo actual é muito complexo e as ciências humanas podem ajudar-nos, sem cair no psicologismo, mas ajudam-nos a ver o caminho. Formá-los com a leitura dos grandes directores e directoras espirituais, sobretudo do monaquismo. Não sei se conheceis as obras do monaquismo primitivo: quanta sabedoria de direcção espiritual havia nelas! É importante formá-los com elas. Como redescobrir esta riqueza? Em 80% a vida consagrada tem um rosto feminino: é verdade, há mais mulheres consagradas do que homens. Como é possível valorizar a presença da mulher, e em particular da mulher consagrada, na Igreja? Repito-me um pouco no que estou para dizer: dar à mulher consagrada também esta função que muitos pensam que pertence só aos sacerdotes; e também concretizar o facto que a mulher consagrada é o rosto da Mãe Igreja e da Mãe Maria, ou seja, ir em frente sobre a maternidade, e maternidade não é apenas fazer filhos! Maternidade é acompanhar no crescimento; maternidade é passar horas ao lado de um doente, do filho doente, do irmão enfermo; é despender a vida no amor, com o amor de ternura e de maternidade. Por este caminho encontraremos mais o papel da mulher na Igreja.
O padre Gaetano abordou vários temas, por isso tenho dificuldade em responder... Mas quando me dizem: «Não! Na Igreja as mulheres devem ser chefes de dicastério, por exemplo!». Sim, podem, nalguns dicastérios podem; mas o que pedes é um simples funcionalismo. Isso não é redescobrir o papel da mulher na Igreja. É mais profundo e vai por este caminho. Sim, que faça estas coisas, que sejam promovidas — agora em Roma temos uma que é reitora de universidade, e seja bem-vinda! — mas isto não é um triunfo. Não. Esta é uma grande coisa, é um aspecto funcional; mas o essencial do papel da mulher consiste — digo-o em termos não teológicos — em fazer com que ela expresse o génio feminino. Quando tratamos um problema entre homens chegamos a uma conclusão, mas se tratamos o mesmo problema com as mulheres, a conclusão será diferente. Percorrerá o mesmo caminho, mas mais rico, mais forte, mais intuitivo. Por isso a mulher deve desempenhar este papel na Igreja; deve explicitar-se, ajudar a expressar de tantas formas o génio feminino.
Penso que com isto respondi como pude às perguntas e à tua. E a propósito de génio feminino, falei de sorriso, falei de paciência na vida da comunidade, e gostaria de dizer uma palavra a esta irmã de 97 anos que saudei: tem 97 anos... Está ali, vejo-a bem. Que levante a mão, para que todas a vejam... Troquei duas ou três palavras com ela, olhava para mim com o olhar límpido, olhava para mim com aquele sorriso de irmã, de mãe e de avó. Nela desejo prestar homenagem à perseverança na vida consagrada. Há quem pense que a vida consagrada é o paraíso na terra. Não! Talvez o Purgatório... Mas não o Paraíso. Não é fácil ir em frente. E quando vejo uma pessoa que despendeu a sua vida, dou graças ao Senhor. Através de ti, irmã, agradeço a todas e a todos os consagrados, muito obrigado!